A industrialização na América Latina começou relativamente tarde, por volta do século XIX, e permanece até hoje no aguardo de novos e necessários investimentos.
Quando tudo começou nessa região do continente americano, a primeira revolução industrial já completava o seu primeiro centenário. Por isso, fala-se muito desse “atraso”.
Ao passo em que a industrialização acontecia, os países latino-americanos optaram e tinham a necessidade de substituir os produtos importados pela manufatura interna.
De acordo com Mauro Andreassa, professor de pós-graduação do Instituto Mauá de Tecnologia, a propósito, “a característica mais triste da nossa economia e por extensão da nossa indústria é a eterna espera de capital e tecnologia estrangeiros. É uma lição de casa romper com esta eterna espera”.
Indústria no Brasil
Sobre a pauta industrialização na América Latina, podemos dizer que o Brasil é o país com a melhor posição no ranking, seguido pela Argentina, Colômbia e México, conforme informações da Alaby Consultores & Associados.
Porém, a palavra industrialização não tem o mesmo significado de produtividade. São termos completamente diferentes, e neste ponto temos um problema.
Isso porque, ao compararmos o Brasil com nove países da América Latina, o país verde e amarelo possui a pior produtividade em dólares por hora, conforme dados do Anuário de Competitividade Mundial 2022.
“O nível de industrialização significa o quanto economicamente um país depende em relação aos países desenvolvidos. Produtividade é produzir mais, sem aumentar a quantidade de fatores de produção empregada (capital e trabalho). É produzir mais com menos. Nesse ponto se encontra nosso maior problema”, define Mauro Andreassa.
Desindustrialização
Muito se fala em desindustrialização. Portanto, vale entrarmos também neste conceito.
O Portal A Voz da Indústria conversou com o professor também sobre este assunto. Ele explica:
“A perda de um posto de trabalho pode significar que muita coisa, aparentemente invisível para a maioria, aconteceu até chegarmos a este ponto, o da desindustrialização. Uma infeliz conjunção de fatores como preço errado do produto por pressão de margens irreais, falta de tecnologia na produção, imposto e taxas complexas, a infraestrutura de logística dispendiosa e muitos outros podem estar por trás da decisão de fechar um posto de trabalho.”
De acordo com a consultoria Manufacturing Transformation Group, um movimento de preço de 3% pode ser a diferença entre a vida e a morte para muitas fábricas.
De um modo mais abrangente, a desindustrialização é o mesmo que a baixa produtividade, muito falada, mas difícil de ser digerida por grande parte da indústria. Ano após ano, ranking após ranking, o Brasil enfrenta uma longa queda.
Para se ter uma ideia, e agora falando em uma perspectiva mundial, em 2022 o país caiu para a 59ª posição no ranking do Anuário de Competitividade Mundial (WCY do inglês, World Competitiveness Ranking) de uma lista de 63 países que avalia indicadores como desempenho econômico, infraestrutura e eficiências do governo e dos negócios.
“Por nossa extensão territorial, agrobusiness, população e extrativismo mineral não merecemos estar a quatro postos da pior produtividade que é a Venezuela”, contribui Andreassa.
No entanto, para romper com esse gargalo, o Brasil como integrante da indústria na América Latina precisa receber investimentos em infraestrutura, simplificação do sistema tributário e atenção na formação de mão de obra qualificada.
Investimentos tecnológicos e capacitação
Quando o assunto são os investimentos tecnológicos e de capacitação na indústria da América Latina, temos uma boa notícia.
Pelo menos é o que indica o estudo da IDC Consultoria. Segundo a pesquisa, os investimentos em infraestrutura de Tecnologia da Informação deverão superar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), em 2023, na América Latina.
O investimento em tecnologias com foco em negócios como nuvem, redes, armazenamento e outros serviços profissionais deve crescer cerca de 12%.
Segundo Andreassa, “a computação de borda (edge computing) é a tecnologia emergente mais focada”.
O especialista afirma que “não podemos esquecer que, quanto mais tecnologia, mais riscos de ciberataques. E a biometria ganha peso. Depois, temos a robótica avançada, a realidade virtual e aumentada, o 5G, a inteligência artificial, blockchain e moedas digitais, o metaverso e a computação quântica”.
“Sem digitalização, não tem sequer conversa”, alerta Andreassa.
Saiba mais sobre a jornada de digitalização na indústria.